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O olhar de Horácio Frutuoso
Coleção RAR 2023

Horácio Frutuoso é um artista que transita entre vários meios de expressão, sendo que a pintura assume um papel primordial nesse campo expandido de uma prática que lhe tem garantido uma visibilidade importante no contexto das artes plásticas nacionais.

O olhar de Horácio Frutuoso sobre a RAR vincula-se a noções de tempo e memória, fluidez e circulação, universalidade e contextos locais. As suas pinturas referenciam de modo explícito imagens das visitas efetuadas às várias empresas do grupo, numa espécie de rememoração cinematográfica em stills, ao que se aduzem como palimpsestos imagens que pairam em significativos hiatos temporais da iconografia avulsa da história da arte…

… ainda que de modo distante e a propósito especificamente da realidade da produção do açúcar, o artista vislumbrou pontos de contacto com algo que lhe tem interessado ao longo da sua carreira: a alquimia enquanto processo especulativo que encontra na experimentação uma ancoragem na busca daquilo que se definiu, não definindo, a inextricabilidade da estética, o famoso “je ne sais quoi”, aquele elemento que foge à especulação teórica e ancora a arte nesse imenso território da criação de um mundo em contínuo sobressalto conceptual e emocional.

Horácio Frutuoso guia-nos, nestas pinturas que respondem ao projeto “Um olhar sobre a RAR”, com idiossincrática visão onde os tempos colidem e fluem. De certo modo estas são pinturas “antigas” a representar um mundo contemporâneo e digital. Mas esse é o grande apelo da arte contemporânea: saber erigir uma consciência de que a sua vocação é, precisamente, a de propor criações onde o tempo não é mais do que uma circunstância material para se afirmar como densidade intemporal. Num período assolado por perplexidades advindas da imersão obrigatória nos esteios da digitalização do mundo e da influência dos algoritmos e, por consequência, da inteligência artificial no nosso dia a dia, os exercícios de memória, as escolhas informadas por um sentido crítico fundamental ao editar a realidade (e nós somos constantemente editores das nossas vidas: no que consumimos, no que vemos, no que lemos, etc.), importa sempre sublinhar que essa outra realidade, a arte, é fundamental e insubstituível no devir da humanidade.

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